Declaração de Artista
Minha percepção sobre o fazer artístico me remete à infância, como em muitas histórias de artistas, que parecem clichês para o ambiente da arte, tive inclinação para o desenho, desenvolvi habilidades manuais, fui incentivada pela minha família. Muito mais importante do que certa habilidade em olhar e copiar figuras, foi descobrir durante a graduação na FAAP, o quanto as referências da arte podem estar no nosso dia a dia, no ambiente em que vivemos, nas coisas que temos ou compartilhamos, nos gestos e nas ideias..
Este despertar agradeço à Dora Longo Bahia por me apresentar o trabalho de Leonilson.
Esta consciência me fez olhar para mim, para minha vida, para o que eu fazia naquele momento e assim, começar a desenvolver uma poética voltada para o ambiente doméstico, para os gestos femininos ligados à costura e aos objetos que fazem parte das manualidades diárias de uma mulher que tem o compromisso de dar atenção às rotinas domésticas e familiares.
Nesta caminhada de aproximadamente vinte anos, desde o despertar para minha poética, venho aprofundando e renovando meu olhar para os objetos, principalmente os mais invisíveis, mais insignificantes e banais. Aliadas aos objetos, foram surgindo questões referentes ao feminismo, ao consumo e ao meio ambiente. Aos poucos descobri que meu trabalho carrega consigo a mulher, a mãe, a esposa, a que cuida da casa e que trabalha fora, que se preocupa com o meio ambiente e pretende compartilhar através da arte, sua percepção de mundo.
A partir de objetos de gavetas, aqueles que cabem na palma da mão, crio pequenos objetos escultóricos, por junção, por acumulação, sobreposição ou repetição. A repetição escancara fazeres contínuos das atividades domésticas sem fim e também enaltece os gestos da costura quase extintos entre jovens nos dias de hoje.
Com os objetos como agulhas, bobinas, clips, botões, crio cenários para fotografá-los e mudar a percepção do espectador em relação ao tamanho das coisas. Parte do meu trabalho poderia ser uma viagem ao mundo das coisas pequenas, como Alice que encolhe para atravessar a pequena porta.
Um simples gesto, um deslocamento de lugar do objeto, pode ser transformador para ativar a consciência para as pequenas coisas do mundo. Acredito que a arte transforma, liberta, conscientiza e faz mudar,
e pode mudar o mundo.
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